É cuidar da carreira em outra empresa e descobrir que seus amigos do
trabalho não eram tão amigos assim.
No inicio de maio, o São Paulo
Futebol Clube dispensou o técnico Oswaldo de Oliveira. Convidados a opinar
sobre os potenciais substitutos, os conselheiros do clube elaboraram uma lista
de 30 técnicos renomados. E nela não constava o nome do técnico do cruzeiro,
Wanderlei Luxemburgo. Numa entrevista ao UOL, o diretor de futebol do São Paulo,
o senhor Carlos Augusto Barros e Silva, explicava por quê: “Há rejeição a ele
no clube. Acho ruim essa cultura dos técnicos de trocar de emprego durante a
vigência de seus contratos”. Traduzindo: em 2002, Luxemburgo havia pedido
emissão do Palmeiras, apesar do prestígio de que gozava no clube e de um bom
ambiente de trabalho. Mais adiante, na mesma entrevista, o senhor Carlos
Augusto comentava a importância que qualquer técnico brasileiro daria a um
possível convite para dirigir o São Paulo: “Da lista de 30 nomes, 20 estão
empregados e aceitaram deixar seus clubes para vir para cá”. Ou seja, nas
próprias palavras do senhor diretor, a “cultura” de romper contratos em
vigência não seria um empecilho para contratar um técnico ruim que estivesse
regularmente empregado em outro clube, mas seria vista como “ruim” caso um
técnico resolvesse deixar o São Paulo pelo mesmo motivo. Isso é típico do
futebol? Ao contrário. O senhor diretor estava verbalizando uma opinião
corrente no mercado de trabalho: ainda existem empresas que reagem
emocionalmente quando seus bons funcionários pedem demissão.
Se você está bem empregado e, de
repente, recebe um convite melhor, certamente começará a pensar: “Como a
empresa reagirá? Qual será o feito de médio prazo em minha carreira?” E, caso
você nunca tenha passado por uma situação dessas, acredite: um dia você
passará. E as respostas, como você descobrirá (ou já descobriu), são:
De casa dez “amigos do peito” de
sua ex-empresa, nove mandarão dizer que estão em reunião quando você telefonar.
Quais nove, você só irá descobrir depois de sair.
Palavras que você nunca ouvira,
como “ingrato” ou “mercenário”, passarão a acompanhar seu nome nas conversas de
corredor. Caso você vá para uma empresa concorrente, o termo usado para
defini-lo será “traidor”. Na melhor das hipóteses, seu nome deixará de ser
mencionado como se você nunca tivesse trabalhado ali.
A maioria de suas realizações
pessoas será atribuída a outros ou ao sistema. Suas falhas serão amplificadas.
O que antes era mérito vira culpa.
Empresas que solicitarem
informações sobre você irão esbarrar nas reticências: “Não, ele era um
funcionário até que razoável, mas...”
Sua ex-empresa estará torcendo
pelo seu fracasso. Ele será o melhor exemplo a ser usado internamente de que
pedir demissão é um erro.
Vale chorar na saída, declarar
amor eterno, tentar deixar as portas abertas? Bom, se fosse numa empresa
profissional, manifestações sentimentais como essas não fariam nenhum sentido.
Já para empresas emocionais, declarações do tipo “Eu adoraria ficar, mas tenho
de ir” soam irremediavelmente falsas, quando não ofensivas. Logo, o melhor,
sempre, é sair bem quietinho. Mas há uma última dica, a mais importante: nunca,
em circunstância nenhuma, fale mal de sua ex-empresa. Às vezes, o mercado de
trabalho pode até emudecer. Mas jamais ficará surdo.
Artigos de Max
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