São duas ou mais premissas curtas e uma conclusão
Pode até parecer que não para
muita gente, mas no exato momento há mais de 1 milhão de boa vagas abertas no
mercado brasileiro. Mas também existem, pelo menos, dez fortes candidados para
cada uma delas. Esses candidados formam um contingente heterogêneo: há o
universitário que ingressa no mundo corporativo, o funcionário da casa que
batalhou por “aquela” promoção, o profissional disposto a trocar de emprego, o
desempregado tentando recolocar-se... No fim, nove dos dez postulantes se verão
obrigados a “aguardar uma próxima oportunidade” (expressão que não resolve
nada, mas que ameniza um pouco o drama).
Como se dá esse processo de
escolha? (Ou, em outras palavras, “por que outro postulante foi escolhido e não
eu, que sei postular muito melhor?”). A resposta é uma simples palavrinha:
“argumento”. A grande maioria das pessoas não é escolhida porque seus
argumentos não conseguem sensibilizar o responsável pela decisão final.
A estrutura de argumento é a
lógica: duas ou mais premissas curtas e uma conclusão. A conclusão é a parte
mais fácil: “Portanto, eu sou o candidato ideal”. O problema está nas
premissas. Os candidatos criam premissas em que eles sinceramente acreditam,
mas que na visão do selecionador se mostram ineficazes para sustentar a
conclusão. Durante centenas de entrevistas que eu conduzi na vida, não foram
poucos os momentos em que as premissas que ouvia me remetiam ao chamado
“argumento irrefutável” criado por meu primo Altair. Premissa 1: pássaros voam.
Premissa 2: pássaros não têm dentes. Premissas 3: vovó não tem dentes.
Conclusão: vovó não pode voar.
Claro, há processos justos e
injustos. Embora quem não foi escolhido sempre se considere injustiçado,
existem algumas injustiças óbvias. Premissa 1: meu tio me mandou vir aqui.
Premissa 2: meu tio é seu chefe. Conclusão: ou você me contrata ou terá de se
entender com meu tio. Em processos com cartas marcadas, não há como competir
com o apadrinhamento e com nepotismo. Mas há processos justos, e é saudável
para quem participa deles saber de antemão quais premissas não funcionam. Aqui
vai uma listinha delas:
Premissas subjetivas. Tenho muita
força de vontade. Sei que posso contribuir. Sou bom no relacionamento com
pessoas. Tenho espírito de liderança.
Premissas acusatórias. Meu chefe
atual é um tapado. Minha última empresa tolhia a criatividade. Eu estava
cercado por invejosos que impediam o meu progresso.
Premissas de auto-indulgência. Eu
perdi muito tempo, mas agra quero recuperar o atraso. Dei o azar de só ter
trabalhado em empresas que não investiam nas pessoas. Meu inglês ainda não é
fluente porque não tive condições de fazer um bom curso.
Premissas de transferência de
responsabilidade. Todas as referências que tive sobre a empresa foram ótimas.
Eu só preciso de uma oportunidade. Vocês não vão se arrepender.
Selecionadores só escutam três
premissas: 1. O que você já fez de prático e mensurável? 2. O que você sabe
sobre nossa empresa? 3. Qual a contribuição imediata que você pode fazer? A
primeira chama “currículo”. A segunda pode ser conseguida na Internet ou com
ex-funcionários (e essa preparação é vital). E a terceira é a junção
inteligente das duas primeiras, traduzida em fatos e números. Conclusão: Você é
o candidato ideal.
Artigos escritos por Max Gehringer publicados na Revista VOCE SA, nos
números 50 a 60.