sábado, 14 de abril de 2012

O que é... Argumento.


São duas ou mais premissas curtas e uma conclusão

Pode até parecer que não para muita gente, mas no exato momento há mais de 1 milhão de boa vagas abertas no mercado brasileiro. Mas também existem, pelo menos, dez fortes candidados para cada uma delas. Esses candidados formam um contingente heterogêneo: há o universitário que ingressa no mundo corporativo, o funcionário da casa que batalhou por “aquela” promoção, o profissional disposto a trocar de emprego, o desempregado tentando recolocar-se... No fim, nove dos dez postulantes se verão obrigados a “aguardar uma próxima oportunidade” (expressão que não resolve nada, mas que ameniza um pouco o drama).

Como se dá esse processo de escolha? (Ou, em outras palavras, “por que outro postulante foi escolhido e não eu, que sei postular muito melhor?”). A resposta é uma simples palavrinha: “argumento”. A grande maioria das pessoas não é escolhida porque seus argumentos não conseguem sensibilizar o responsável pela decisão final.

A estrutura de argumento é a lógica: duas ou mais premissas curtas e uma conclusão. A conclusão é a parte mais fácil: “Portanto, eu sou o candidato ideal”. O problema está nas premissas. Os candidatos criam premissas em que eles sinceramente acreditam, mas que na visão do selecionador se mostram ineficazes para sustentar a conclusão. Durante centenas de entrevistas que eu conduzi na vida, não foram poucos os momentos em que as premissas que ouvia me remetiam ao chamado “argumento irrefutável” criado por meu primo Altair. Premissa 1: pássaros voam. Premissa 2: pássaros não têm dentes. Premissas 3: vovó não tem dentes. Conclusão: vovó não pode voar.

Claro, há processos justos e injustos. Embora quem não foi escolhido sempre se considere injustiçado, existem algumas injustiças óbvias. Premissa 1: meu tio me mandou vir aqui. Premissa 2: meu tio é seu chefe. Conclusão: ou você me contrata ou terá de se entender com meu tio. Em processos com cartas marcadas, não há como competir com o apadrinhamento e com nepotismo. Mas há processos justos, e é saudável para quem participa deles saber de antemão quais premissas não funcionam. Aqui vai uma listinha delas:

Premissas subjetivas. Tenho muita força de vontade. Sei que posso contribuir. Sou bom no relacionamento com pessoas. Tenho espírito de liderança.

Premissas acusatórias. Meu chefe atual é um tapado. Minha última empresa tolhia a criatividade. Eu estava cercado por invejosos que impediam o meu progresso.

Premissas de auto-indulgência. Eu perdi muito tempo, mas agra quero recuperar o atraso. Dei o azar de só ter trabalhado em empresas que não investiam nas pessoas. Meu inglês ainda não é fluente porque não tive condições de fazer um bom curso.

Premissas de transferência de responsabilidade. Todas as referências que tive sobre a empresa foram ótimas. Eu só preciso de uma oportunidade. Vocês não vão se arrepender.

Selecionadores só escutam três premissas: 1. O que você já fez de prático e mensurável? 2. O que você sabe sobre nossa empresa? 3. Qual a contribuição imediata que você pode fazer? A primeira chama “currículo”. A segunda pode ser conseguida na Internet ou com ex-funcionários (e essa preparação é vital). E a terceira é a junção inteligente das duas primeiras, traduzida em fatos e números. Conclusão: Você é o candidato ideal.


Artigos escritos por Max Gehringer publicados na Revista VOCE SA, nos números 50 a 60.