Empresas apreciam funcionários
criativos. Aliás, mais que apreciar, elas dependem deles para quase tudo: bolar
novos produtos, aumentar a produtividade, melhorar a rotina, encontrar nichos
de mercado inexplorados, e por aí vai. É por isso que as empresas patrocinam
seminários de criatividade para seus funcionários. Eu mesmo participei de
vários, a grande maioria deles esquecíveis, porque eram focados mais na teoria
do que na execução prática. Mas houve um, ainda bem, que me ensinou uma lição
duradoura.
Éramos uns 30 participantes, e
cada um recebeu um pedacinho de arame reto, com 13 centímetros de comprimento,
com a recomendação de que tentássemos produzir alguma coisa criativa com ele.
Menos de cinco minutos depois, todos os participantes – sem exceção –
apresentaram orgulhosamente a “sua” idéia originalíssima: um clipe.
O clipe é o triunfo da
simplicidade. Oito dobras fáceis, que podem ser feitas à mão, sem auxílio de
nenhum instrumento. E sem necessidade de experiência prévia, nem estudo
específico, nem intelecto superior. E, melhor ainda, sem gastar quase nada.
Nenhuma outra invenção humana tem uma relação de custo e benefício melhor que a
do clipe. Hoje, são produzidos no mundo, a cada ano, 20 bilhões de clipes (três
para cada terráqueo). Que servem literalmente para tudo: soltar disquetes
encalacrados na gaveta do computador, limpar as unhas, marcar cartelas de bingo
e, eventualmente, até para prender papel. Dito tudo isso, é espantoso saber que
ele demorou tanto para ser inventado. Afinal, a humanidade produz documentos em
papiro ou em papel há milênios, e muitos desses documentos tinham, como têm até
hoje, os inevitáveis “anexos”. Que eram colados, pregados, amarrados,
costurados ou, simplesmente, vinham soltos. Quer dizer, ou se perdiam, ou eram
impossíveis de destacar.
Os noruegueses atribuem a
invenção do clipe a seu compatriota Johan Vaaler, em 1899. Por isso, durante a
Segunda Guerra Mundial, quando a Alemanha nazista invadiu a Noruega e proibiu o
uso de símbolos nacionalistas, os noruegueses passaram a usas clipes na lapela,
numa demonstração pública de patriotismo que os alemães não tiveram como
proibir, já que clipes existiam também na Alemanha. Mas o clipe de Vaaler não
foi o primeiro. Décadas antes dele, o pedacinho de arame já havia sido dobrado
na Inglaterra, no formato de um “M” (três dobras). As pernas do “M” ficavam
atrás das folhas de papel e o ângulo inferior na frente. Mas tanto o clipe de
Vaaler (com cinco dobras) quanto o “M” inglês não tinham, ainda, o que o clipe
atual tem: um pentágono dentro do outro (as oito dobras). Essa maravilha do
design, por incrível que pareça, surgiu em 1901 e nunca foi patenteada. E, ao
contrário de qualquer outra invenção com mais de um século de vida, nunca mais
o clipe sofreria alterações. Basta olhar para ele para perceber que um clipe
não pode ser “aperfeiçoado”.
Por algum motivo, nós, do século
21, parecemos estar convencidos de que criatividade é sinônimo de complicação.
Todos os dias, novas idéias, que não requerem especializações ou altos
investimentos, passeiam bem diante de nossos olhos. Mas nós as descartamos, ou
nem as percebemos mais, porque há muito deixamos de acreditar que uma boa
decisão, pessoal ou profissional, ainda possa ter a simplicidade de um clipe.
Artigos de Max
Gehringer.